sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Símbolos

As exigências materiais devoram as mais verdadeiras manifestações da vida. E nosso olhar ocidental-capitalista devora toda e qualquer concepção integral ou harmônica do mundo. Estamos mesmo perdidos, ocupados que estamos em acumular, possuir, desejar, acumular, acumular.  Essa verdade simples, aterradora, imprime o materialismo em nós, como uma marca a fogo. Nossa sociedade está se tornando um equívoco, mascarada em modelos que não funcionam para todos, mas apenas para uma elite [a mim, a lucidez  torna tudo em torno mais tosco e desesperador], e acumulam-se erros, desastres e destruição. A grande maioria das pessoas sequer percebe isso: tudo parece-lhes normal. 

          Mas, irremediavelmente, a verdade é que a teia está tecida em trama tal que é difícil qualquer possibilidade de escape ou saída, e todas as pessoas acabam por colaborar com o absurdo, perpetuando-o. Penso nisso todos os dias e minha tendência é tentar negá-lo, mas quando estou no cotidiano, quando tenho que conviver com as pessoas, percebo que não é possível a negação total. O resultado dessa negação seria tornar-se uma Claudel, um Van Gogh. Ou ser um personagem de Kafka ao contrário: virar um macaco talvez pudesse ser a única forma de viver entre homens e não perpetuar sua loucura.

E por que penso nessas coisas, por que perco meu tempo juntando símbolos nessa tela iluminada e escrevo minhas impressões? Porque penso que as palavras e a arte é o que pode salvar as pessoas. A arte, como li em Tarkovski, é um símbolo do universo, e está ligada à verdade espiritual. O livro [Esculpir o Tempo] é uma das obras mais lindas que li. E fez-me mudar internamente. Para sempre. E ao sair à rua e sentir a vida e o rumo que essa vida toma, sinto-me arrebatada pelo sentimento que Tarkovski descreve. Sinto que estamos perdendo algo essencial [na ânsia por algo que não passa de afirmação e ego, ou dinheiro], estamos perdendo a noção do horrível e do belo [que Tarkovski diz estarem contidos, paradoxalmente, um no outro] e estamos transformando tudo no horrível, como uma devoração insana do belo. Estamos perdendo a capacidade de ouvir o eco da nossa própria voz, e deixamos de entender que o discurso deve ser mudado. E porque é preciso parar e tentar um movimento contrário, algo que retome o elo espiritual. Algo que reverta essa insânia de acumular, acumular, acumular, sem nos preocuparmos em preservar a beleza da criação.


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