Um belo livro de
cabeceira : nele, Junichiro Tanizaki poeticamente descreve
elementos sobre iluminação e harmonização de ambientes, a preferência dos
orientais pela sombra, pelo escuro e a sobriedade. Neste livro singelo, simples,
mas profundo, entendemos porque as instalações japonesas, tanto nas edificações
tradicionais ou nas mais modernas transformam-se em ambientes tranquilizadores,
harmônicos e nos dão a sensação de comodidade e relaxamento... isso acontece pelo acréscimo
de um elemento: a sombra.
A narrativa sutil e simples de Tanizaki realça o modo de pensar, o gosto e mesmo a literatura e a
arte japonesas. Tanizaki defende as tradições e a sensibilidade orientais e esboça uma explicação para o fato de os orientais
repelirem os objetos cintilantes ou sempre renovados pelo polimento,
característica da civilização ocidental. Os japoneses têm especial apreço pelas
marcas deixadas pelo tempo, pelo “embaçamento” natural que o tempo imprime nos
objetos, desde a madeira até o cobre ou a prata e o ferro, assim como os chineses.
Tanizaki nos mostra que o sóbrio tom
envelhecido dos materiais é o aspecto delicado apreciado por chineses e
japoneses. Um exemplo é o estanho, metal leve, brilhante e delgado, que nas mãos dos chineses se
transforma “em algo profundo, sombrio e imponente,
muito semelhante à tradicional cerâmica japonesa shudei,
de coloração castanho avermelhada.” Outro exemplo é a apreciação pela luz mortiça
do jade, que se assemelha à atmosfera concentrada de centenas de anos.
A passagem do tempo, gravada nos
materiais é escrita como “a sujeira acumulada”, e Tanizaki a expressa da mesma maneira que a preferência por ambientes frios : assim como “o frio
estimula a estesia”, a “sujeira estimula a estesia”. Segundo Tanizaki as coisas que os orientais apreciam como
belas e requintadas têm uma “parcela de sujeira e desasseio”, pois eles valorizam as
marcas de manipulação, a fuligem, a chuva e o vento, pois estes são elementos
que “tranquilizam a alma, proporcionam serenidade”.
Um livro essencial, para
pensarmos nossa forma ocidental de lidar com os objetos, a matéria : o absurdo
peso da velocidade com que descartamos as coisas e tornamos o mundo uma montanha
de “lixo”, aquilo que para nós é inútil porque perdeu o brilho, saiu de moda, que desprezamos porque apresentou as marcas do tempo. Não é apenas um livro sobre a estética do olhar, da sombra e a arquitetura japonesas, mas um livro imprescindível para refletir sobre a durabilidade, o tempo, o olhar o mundo.