A nau a caminho,
Esqueci-me de partir.
O leme frouxo na maré estival,
as mãos perdidas, o olhar eterno,
os lábios ressecados de sal e sol
e a lembrança
– a lembrança de seus abissais braços metálicos –
amarras a ancorar-me em tormentas
de febre e amor soterrado.
A embarcação segue, insana
mar adentro, profundo e negro,
o cordame esfarrapado
as velas obtusas, silentes
mas sou eu que naufrago:
vozes eternas sussurram
sopram, se dobram e se quebram
vozes abafadas no movimento
das espumantes ondas negras –
partiu a nau, para sempre
sem mim.