sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O dia

[Foto: Van Gogh's Mulberry Tree.] 

O dia. A chuva breve, pela manhã, ar perfeito e eu saio para o trabalho. Não ouço os passarinhos: a árvore foi morta [por mortais cientes demais de suas escolhas]. Não há mais nada que eu deseje nesta manhã: ter alguma coisa já não importa. Mas não poderei esquecer o toque sobre a pele, nem os olhos – profundos olhos de água. Não sinto nenhuma dor. Não sinto impulsos de alegria súbita. Não sinto nada além do dia que escorre lentamente diante de mim. Mas toda a dor pesa, como se o mundo inteiro me comprimisse. Penso demais em tudo o que todas as pessoas parecem deixar de pensar. Descalço os sapatos e resolvo pisar o asfalto molhado. Não sei descrever a sensação, estéril demais para as nossas poesias do cotidiano. Perdoe-me, então. Hoje. É. Apenas. Mais. Um. Dia. E a chuva cessou.





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