segunda-feira, 17 de junho de 2019

Esferas


Jupiter, Saturno, Pisces. 


No céu de novembro
trêmulas esferas cintilantes
nenhum sinal, nenhuma dor
nenhum verso estanque
: a pele áspera e escovada do tempo
apenas silencia no turbilhão etéreo e móvel
a harmonia do mundo.

No íntimo das coisas a espera amorfa
a sublime névoa da semente da vida
única e eterna, vibra.
No exterior das coisas o silêncio escandido
a posse do tempo e o bater de címbalos
que, sombrios, escorrem em direção à luz.



quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

O rio do tempo

 
Nada escuta o sussurro das pedras
um retrato sonhado de Ondinas
as transgressões e desejos da terra
ou a ira corajosa de águas tormentosas.

Apenas o tempo antigo de um rio ignorado
 suave e sem ruído –  impresso em lisuras
como se ventos submersos fossem
lapidam cantos gregos em catedrais em ruínas.

Repetindo o azul do céu como astros que nascem do chão
hortênsias flutuam às margens do rio do tempo –
a natureza encerra seus silêncios espelhados.


 Imagem: Gyro, iStock



terça-feira, 1 de janeiro de 2019

[...]


perco-me na pressa das horas
observo os passantes
suas nebulosas retinas
e tudo o que os olhos não alcançam

o silêncio permanece lá fora
o céu estático, sem cor
nada recria a pedra, o acre pó
na terra abandonada e fria
de um tempo outro
de uma morte em áspera melodia
no oceano denso e azul

nada lembra o acaso das horas
nem sinos nem tiros de canhão
nem satélites nem feitiços

sob o céu mudo não estou
nem nesse tempo nem em outro
um vazio mediterrâneo no peito