O mundo hoje [e o ciberespaço] é
muito cruel. E o é em vão: é um exercício de violação da personalidade e da
contemplação, sem nenhum fim determinado. Até no que se pode chamar de arte há
esse exercício de crueldade absolutamente gratuito, que impõe um ritmo alucinado
de informações que nascem e morrem instantaneamente. Tem dias que eu me sinto
submersa, náufraga, outros, soterrada e é contra esse sentimento que devo
lutar, se eu quiser realmente fazer alguma
coisa com o que penso, sinto, desejo. O que desejo é viver; quero mesmo reencontrar
minha tranquilidade, minha capacidade de contemplar. Penso muito sobre as
coisas que me interessam. As artes me interessam. A beleza me interessa. O
pensamento me interessa. Saber o quanto a arte está corrompida de seu valor
real faz-me buscar a sua linguagem verdadeira, ou pelo menos tentar entendê-la
a partir dos velhos livros, de forma a participar, assimilar e integrar seus
conceitos e sua evolução, compreendê-la, devorá-la, senti-la.
Li em algum lugar que a função do
artista é – mais do que nunca – encontrar uma nova linguagem, que possa
restabelecer a comunicação e vencer a alienação reinante. Em nossa sociedade,
tão carente de riquezas intelectuais, é necessário encontrar elementos de
compreensão [da própria civilização, em seu estágio atual] para mergulhar na
realidade e repensá-la numa nova estética, elevando-a a uma posição essencial.
Mas, para isso, é preciso antes mergulhar em si mesmo. E para mergulhar em si
mesmo é preciso tempo. Contemplação. Hoje, mais do que nunca, é
preciso tentar vencer o ritmo alucinado de informações, pois ele é nefasto.
É preciso tentar ver o interior
das coisas e compreendê-lo: sair das restrições impostas pelo imediatismo. Se
vivemos a cultura urbana, a cultura de nossos dias, em que tudo é descartável,
é necessário repensar o cotidiano e tudo o mais em relação à cultura
tradicional. É preciso se jogar na realidade e saber que cada ser humano irá
sentir essa realidade a partir de uma escala de valores. É preciso buscar os elos,
os elementos que restituam uma compreensão dessa realidade, mesmo com a
velocidade das mudanças, e sem a ditadura artificial de que é preciso que tudo
venha nesse ritmo absurdo. Eu desejo arte. Eu desejo beleza. Eu desejo
aprender. E para isso eu preciso desacelerar.
Arte é consciência, é contramovimento, é emoção, é vida. É sentimento e
pensamento. E nada disso pode acontecer se passar voando. É preciso parar, ver
e penetrar em sua essência.
[Mesmo a vida necessita de
pausas. Para no fim, morrer.]
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