sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Contemplação



 
 
O mundo hoje [e o ciberespaço] é muito cruel. E o é em vão: é um exercício de violação da personalidade e da contemplação, sem nenhum fim determinado. Até no que se pode chamar de arte há esse exercício de crueldade absolutamente gratuito, que impõe um ritmo alucinado de informações que nascem e morrem instantaneamente. Tem dias que eu me sinto submersa, náufraga, outros, soterrada e é contra esse sentimento que devo lutar, se eu quiser realmente fazer alguma coisa com o que penso, sinto, desejo.  O que desejo é viver; quero mesmo reencontrar minha tranquilidade, minha capacidade de contemplar. Penso muito sobre as coisas que me interessam. As artes me interessam. A beleza me interessa. O pensamento me interessa. Saber o quanto a arte está corrompida de seu valor real faz-me buscar a sua linguagem verdadeira, ou pelo menos tentar entendê-la a partir dos velhos livros, de forma a participar, assimilar e integrar seus conceitos e sua evolução, compreendê-la, devorá-la, senti-la.

Li em algum lugar que a função do artista é – mais do que nunca – encontrar uma nova linguagem, que possa restabelecer a comunicação e vencer a alienação reinante. Em nossa sociedade, tão carente de riquezas intelectuais, é necessário encontrar elementos de compreensão [da própria civilização, em seu estágio atual] para mergulhar na realidade e repensá-la numa nova estética, elevando-a a uma posição essencial. Mas, para isso, é preciso antes mergulhar em si mesmo. E para mergulhar em si mesmo é preciso tempo. Contemplação. Hoje, mais do que nunca, é preciso tentar vencer o ritmo alucinado de informações, pois ele é nefasto.
 
É preciso tentar ver o interior das coisas e compreendê-lo: sair das restrições impostas pelo imediatismo. Se vivemos a cultura urbana, a cultura de nossos dias, em que tudo é descartável, é necessário repensar o cotidiano e tudo o mais em relação à cultura tradicional. É preciso se jogar na realidade e saber que cada ser humano irá sentir essa realidade a partir de uma escala de valores. É preciso buscar os elos, os elementos que restituam uma compreensão dessa realidade, mesmo com a velocidade das mudanças, e sem a ditadura artificial de que é preciso que tudo venha nesse ritmo absurdo. Eu desejo arte. Eu desejo beleza. Eu desejo aprender. E para isso eu preciso desacelerar. Arte é consciência, é contramovimento, é emoção, é vida. É sentimento e pensamento. E nada disso pode acontecer se passar voando. É preciso parar, ver e penetrar em sua essência.
 
[Mesmo a vida necessita de pausas. Para no fim, morrer.]


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