[Foto: Justyna Dudzik]
São 00:07. Eis-me aqui, diante da
tela brilhante. Estou um tanto cética. Um tanto emparedada. E há uma náusea,
constante. Quero uma lembrança imperecível. E penetrar no reino das palavras. E
mergulhar até o fundo. E águas. [...] Águas que ensurdeçam os sonhos. Para se
ouvir os sonhos é preciso ouvi-los de perto ou de longe? As imagens falam, às
vezes são até surdas. Mas é necessário ouvi-las. É assim com a música, por
exemplo : pois que não existiria sem o silêncio. É necessário ouvir o silêncio. E então
nascem. Sons. E os eternos paradoxos : não é o silêncio, também, o ruído
extremo do universo, ao ponto da surdez, já que são bilhões e bilhões e bilhões de astros
explodindo em constante movimento nesse silêncio absoluto que é o Cosmos???
[...] Os paradoxos. Não somos Deus e nosso discurso não passa apenas de um
discurso. Mas se não fossem os paradoxos nem sequer teríamos Deus. Como não
teríamos música sem o silêncio. A permanência atroz das nossas necessidades
mundanas ao mesmo tempo nos faz trilhar a senda da verdade e da ilusão. Não é
fantástico? Há o murmúrio confuso das nossas almas: é o som de fundo, talvez,
ecoando no espaço. A nossa única
esperança é não ter mais o que esperar. Esse é, também, um dos paradoxos
budistas. A verdade é que a vida é, por si, um paradoxo. Estamos imersos nela,
e a maioria não sabe sequer sentir-se viva. A maioria não se sabe sequer viva.
Muitos andam por aí, como autômatos, buscando uma salvação externa. A salvação
está no fim. E, nesse, nenhum Deus irá junto.
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