Adão e Eva, Albrecht Dürer, óleo sobre madeira, 1507.
O pequeno e belíssimo livro com 3
ensaios de José Ortega y Gasset "Adão no Paraíso e outros ensaios de
Estética" traz reflexões importantes sobre Estética, Literatura, Pintura e
Arte. Nestes belos textos, Ortega y
Gasset aborda questões relacionadas ao gosto e à tomada de posição em relação à
arte, em relação aos estudos de estética e às emoções suscitadas diante da obra.
O autor, em linguagem fluida, direta, desconstrói alguns dogmas da tradição crítica, com simplicidade e
maestria.
No primeiro ensaio, Adão no Paraíso, Ortega y Gasset aponta-nos que “há tantas realidades quanto pontos de vista”
e, portanto, não se pode crer numa realidade imutável e única com a qual se
pode comparar ou definir os conteúdos das obras de arte. Ainda, segundo ele,
“toda cultura é artifício”, resultado de uma cadeia de ideias, práticas, pontos
de vista e tomadas de posição.
Ortega y Gasset diz-nos que os
limites da teoria, a qual reduz a arte a conceitos, exclui o pensamento acerca
da origem das emoções diante das obras. A partir da sua experiência e do
seu gosto, como espanhol e pensador, passa a compor reflexões que formam a base da sua
investigação estética, sem, no entanto, se deixar cair nas armadilhas das
verdades absolutas ou irrefletidas. Assim, o filósofo valoriza o sentimento e a
emoção diante da obra e, para ilustrá-lo poeticamente, constrói uma
interessante metáfora: "Adão foi o primeiro ser que, vivendo, sentiu a si
mesmo viver. Para Adão a vida existe como um problema". Assim, para Ortega
y Gasset não existe arte sem reflexão, e Adão torna-se o primeiro homem a
prová-lo e se diferenciar dos animais. O homem carrega, pois, dentro de si, um
problema heroico, trágico, e a arte é o que permitirá resolver esse problema.
Segundo o autor, a estética é uma
“operação bastante melancólica” e pretende “encaixar nos quadradinhos dos
conceitos a pletora inesgotável da substância artística”. Por outro lado, “não
há forma de aprisionar em um conceito a emoção do belo”, já que diante da obra
de arte “a observação estética não satisfaça nunca”. “A arte é o reino do
sentimento, e dentro da constituição desse reino, o pensamento só pode
frequentar o plebeu e o vulgar, só pode representar a vulgaridade.”
Ortega y Gasset analisa ainda
outros aspectos: para as ciências, as coisas são casos particulares de leis
gerais. "Da tragédia da ciência nasce a arte. Quando os métodos
científicos nos abandonam, começam os métodos artísticos". As artes são,
portanto, parte do mistério. E o ensaísta vai defini-las pelo que há de
particular e irredutível em cada uma: “uma arte que pode se expressar de outra
forma não é arte; o significado de um poema traduzido em prosa já não é o
poema”. E, em certo ponto, afirma: “mas, para quem tem consciência do que
significa uma orientação exata nesses assuntos, a estética vale tanto como a
obra de arte”.
Para não esgotar as surpresas
desse pequeno e belíssimo livro, termino o post por aqui [sem mencionar os outros dois ensaios]. Voltarei a ele, para reconstruí-lo de outra maneira ou para falar dos olhares e da beleza que brota do olhar dos artistas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário