Foto: Connie Palmen
Volto aos Cursos de Estética de
Hegel.
Neste belo texto, Hegel diz-nos
que a ironia encontrou seu fundamento na filosofia de Fichte. Estabelece o
eu total e abstrato como princípio absoluto do saber, da razão, do
conhecimento. Todo o conteúdo que deve valer para o eu só é estabelecido e
reconhecido pelo eu. O que é só pode ser através de mim e, dessa maneira, pode
ser aniquilado por mim.
Mas se as coisas só podem ser
conhecidas e produzidas pelo eu, nada pode então ser considerado em si e para si. O em si e para si é
apenas uma aparência, não sendo verdadeiro. Hegel percebe uma falta de seriedade
no agir do eu absoluto fichteano, pois a validade de tudo só se encontra no eu.
Nisso, o eu pode criar e destruir indefinidamente, sem ter compromisso com
qualquer seriedade. E os outros sujeitos, que não têm a capacidade de apreender
a altura do ponto de vista do eu, são limitados, pobres.
Segundo Hegel, seria esse o significado da
ironia divina: um eu que se concentra em si mesmo e vive para o seu próprio
gozo, se relacionando ironicamente com o em si e para si universal, que só ele,
o eu, determina. A partir disso, temos a nulidade de tudo o que é objetivo, exceto a
própria subjetividade do eu, a qual, por isso, torna-se oca e vaidosa. Em
contrapartida, há a insatisfação do sujeito, que precisa de algo fixo,
substancial, o qual não pode conceber, não conseguindo, pois, se libertar da solidão e
retraimento em si mesmo. Há a nulidade do conteúdo no indivíduo: mesmo o
conteúdo sendo válido e substancial, ele acaba se anulando no indivíduo, a
partir dele mesmo. Para o sujeito falta força para poder romper com sua
vaidade.
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