sexta-feira, 23 de maio de 2014

A Ironia

Foto: Connie Palmen


Volto aos Cursos de Estética de Hegel.

Neste belo texto, Hegel diz-nos que a ironia encontrou seu fundamento na filosofia de Fichte. Estabelece o eu total e abstrato como princípio absoluto do saber, da razão, do conhecimento. Todo o conteúdo que deve valer para o eu só é estabelecido e reconhecido pelo eu. O que é só pode ser através de mim e, dessa maneira, pode ser aniquilado por mim.

Mas se as coisas só podem ser conhecidas e produzidas pelo eu, nada pode então ser considerado em si e para si.  O em si e para si é apenas uma aparência, não sendo verdadeiro. Hegel percebe uma falta de seriedade no agir do eu absoluto fichteano, pois a validade de tudo só se encontra no eu. Nisso, o eu pode criar e destruir indefinidamente, sem ter compromisso com qualquer seriedade. E os outros sujeitos, que não têm a capacidade de apreender a altura do ponto de vista do eu, são limitados, pobres.

Segundo Hegel, seria esse o significado da ironia divina: um eu que se concentra em si mesmo e vive para o seu próprio gozo, se relacionando ironicamente com o em si e para si universal, que só ele, o eu, determina. A partir disso, temos a nulidade de tudo o que é objetivo, exceto a própria subjetividade do eu, a qual, por isso, torna-se oca e vaidosa. Em contrapartida, há a insatisfação do sujeito, que precisa de algo fixo, substancial, o qual não pode conceber, não conseguindo, pois, se libertar da solidão e retraimento em si mesmo. Há a nulidade do conteúdo no indivíduo: mesmo o conteúdo sendo válido e substancial, ele acaba se anulando no indivíduo, a partir dele mesmo. Para o sujeito falta força para poder romper com sua vaidade.

  

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