[Foto: Louise Bourgeois]
Quem é o poeta? Quem o artista? Ambos utilizam a
potência do falso para instaurar o verdadeiro. Entre o verídico e o verdadeiro,
se inscreve o grande enigma da criação. Reencenar, pesquisar, atuar, buscar,
romper e transformar pura e simplesmente o que existe : este é o desafio do
criador. Abro os olhos, risco de giz os artifícios muitos. Algo aparece nas
entrelinhas, como mágica de fogo que do céu é como um deus, e outro encontra o
percurso inverso, da palavra estanque, muda, rígida que permanece como pedra
bruta. O objetivo: instaurar uma realidade densa e viva onde possa realmente existir
e morrer num átimo. Existir é sempre a mesma dor, mas é nas relações entre
material e artifício entre palavra e ato, entre imagem e espectro que nasce
esse instante último, fugaz e paradoxalmente eterno da criação. Depois é a
morte, a veracidade das imagens que flutuam no espaço, nunca mais pertencente
ao criador.
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