sexta-feira, 2 de junho de 2017

Luzes

Há um peixe no tanque
de alguma memória antiga
infância remota e desbotada
infância que se perdeu sob giz e pó
infância que se esqueceu.

Mas o peixe insiste
como se escapasse por uma fresta
e escorregasse sob as luzes do tempo.

Tenho um coração estranho
preso às horas, vibra como a corda partida
de um violino abandonado
com um êxtase exagerado
nota que ecoa no escuro azul do céu
–  om om om om om om

Sob a luz do Sol poente
não deveria o peixe fazer a travessia?
As lembranças escorrem como água da chuva
e caem no tanque de lodo:
era um sonho? não era um sonho?

A memória é como a loucura que insiste.
O peixe canta, uma nota no fundo do tanque.


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