domingo, 11 de junho de 2017

Jacintos



                                                     Botticelli, Primavera [Detalhe]



O calor arde todos os sóis do mundo
pedras estáticas estalando no Eterno
e eu canto

Canto o pesar de todos os amantes abandonados
canto a alegria dos jacintos que se abrem por instantes
canto o silêncio perdido de todos os cegos

Levamos no peito o leão de obscuras fúrias
e as mulheres todas de mãos negras calcinadas
e o peso

O peso de todas as eternidades individuais
riscadas sob o branco véu da Via Làctea

Os jacintos respiram como um deus adormecido
subindo aos céus para sempre
sua beleza pálida e silente
no puro azul que arde, arde
como cabeleiras loucas e pujantes
que se movem e crescem engolindo os ventos

Os jacintos ardem por instantes de eternidade
desaparecendo alegremente sob as pedras lúbricas.



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