Como em seus versos, a ausência fere o céu —
tão
hostil quanto o silêncio das pedras nos crepúsculos dessa tarde
abrigo-me em cada linha dos seus cantos de amor e de ruína
e,
ofegante ainda,
corro
contra o tempo para tocar o futuro
quando
todos os meus sentidos então se desgarrarem,
e
a carne não mais me suportar,
ainda
assim escutarei seus versos.
Ergo-me
nessa cidade construída do espanto,
sem
hera e sem esquinas, sem becos e sem passado,
cidade
que jamais pode abrigar meus sonhos —
o
mundo inteiro silenciado, os olhos, mãos e voz
como
se o tempo parado irrompesse em mudas fúrias:
e
muito, muito depois, depois de conhecer a graça,
o
estupor, a couraça, a dilaceração e a lascívia,
ainda
assim devorarei seus versos.
Nessa
noite e em cada noite
muito depois de meus
dedos percorrerem o caminho das palavras,
rompendo
o peso da sombra invisível através
dos muros,
a portas cerradas, nas breves folhas trêmulas
a portas cerradas, nas breves folhas trêmulas
de passos que se afastam e se aproximam
suaves, como o silêncio das estrelas
e
as cigarras suicidas que da tosca terra vêm,
— ainda
assim sussurrarei seus versos.
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