quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Ode a Dylan Thomas


Como em seus versos, a ausência fere o céu  
  
tão hostil quanto o silêncio das pedras nos crepúsculos dessa tarde
abrigo-me em cada linha dos seus cantos de amor e de ruína
e, ofegante ainda
corro contra o tempo para tocar o futuro
quando todos os meus sentidos então se desgarrarem,
e a carne não mais me suportar,
ainda assim escutarei seus versos.

Ergo-me nessa cidade construída do espanto,
sem hera e sem esquinas, sem becos e sem passado,
cidade que jamais pode abrigar meus sonhos   
o mundo inteiro silenciado, os olhos, mãos e voz
como se o tempo parado irrompesse em mudas fúrias:
e muito, muito depois, depois de conhecer a graça,
o estupor, a couraça, a dilaceração e a lascívia,
ainda assim devorarei seus versos.

Nessa noite e em cada noite
muito depois de meus dedos percorrerem o caminho das palavras,
rompendo o peso da sombra invisível através dos muros, 
a portas cerradas, nas breves folhas trêmulas
de passos que se afastam e se aproximam
suaves, como o silêncio das estrelas
e as cigarras suicidas que da tosca terra vêm,
  ainda assim sussurrarei seus versos.



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